SABER e CONHECIMENTO

SABER E CONHECIMENTO:
O PESQUISADOR PSICANALÍTICO FREUDO-LACANAINO
PERANTE PIAGET E KANT
jlcaon@terra.com.br


O saber é um poder, uma faculdade, uma capacidade, uma habilidade.
A frase “I can speak English” é traduzida por “eu sou capaz de falar inglês”, ou então, “eu posso falar inglês”, ou simplesmente, “eu sei falar inglês”. Todavia, nunca será traduzida por “eu conheço falar inglês”.
Cabe dizer “eu conheço o idioma inglês, mas não sei falar inglês”, ou “eu sei falar o luso-brasileiro, mas conheço pouco esse idioma”.
Todos temos intuições seguras com as quais somos capazes de nos conduzir razoavelmente com aquilo que se diz ser o “saber” ou o “conhecimento”. Entendemos logo quando dizemos que o saber se fortalece e aperfeiçoa e que o conhecimento se constrói e complexifica.
Agora, munidos com essas noções de “o saber” e “o conhecimento”, vamos comparar as pesquisas de Piaget e as de Freud.
Piaget funda o campo do saber inteligente no saber biológico. Piaget funda uma biopsicogênese.
Freud funda o campo do saber inconsciente no saber sexual. Freud funda uma sexopsicogênese.
Piaget serve-se do modelo do organismo biológico, para concluir que a inteligência é efeito do prolongamento especializado do biológico.
Freud serve-se do modelo do aparelho psíquico para concluir que a psique é o efeito do expurgo (recalcado) irreversível do biológico.
A partir de Lacan, podemos esclarecer-nos melhor, isto é, o inconsciente é inconsciente por que é determinado pela linguagem. A linguagem é a condição do inconsciente.
Então, se por um lado, um piagetiano afirmar que a biogênese é condição da psicogênese, então, por outro lado, um freudo-lacaniano vai afirmar que a linguagem é a condição do inconsciente, isto é, do inconsciente do psíquico, stricto sensu. E é assim porque se pode pensar em inconsciente sem pré-consciente/consciente, mas não vice-versa.
O saber stricto sensu é o inconsciente. O saber pré-consciente/consciente é saber enquanto condicionado pelo saber inconsciente. Por fim, esse saber pré-consciente/consciente pelo qual se interessará um filósofo kantiano é, para o pesquisador psicanalítico, duplamente condicionado: uma vez pela linguagem, enquanto condição do inconsciente, e, outra vez, pelo inconsciente mesmo, enquanto condição, ele mesmo, do pré-consciente/consciente.
Essa dupla condição não interessa ao filósofo kantiano, porque esse não acolhe o axioma do recalcamento. Todavia, é interessante ver que os kantianos não repudiam a sensibilidade e a intuição. Pelo contrário, colocam-nas ao lado da inteligibilidade e do conceito.
Para um kantiano, a sensibilidade (intuições) sem a inteligibilidade é cega e a inteligibilidade (conceitos) sem a sensibilidade é vazia. Paralelamente, os pesquisadores psicanalíticos colocam o saber inconsciente ao lado do saber pré-consciente/consciente. Então, o inconsciente sem a pré-consciencia/consciência seria inacessível e o pré-consciente/consciente sem o inconsciente seria robotização.
Não corremos perigo de nos animalizarmos, pois isto, é impossível. Mas, embora também não corramos o perigo de nos robotizarmos, no momento em que vivemos, a robotização cotidiana de nossas mentes e corações é bem mais presente e bem mais ameaçadora.

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